quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Transições

Escreveu Maria João Avillez na reportagem "A Presidência da República vista dos bastidores. As regras da Casa" (Sábado, edição de 6 de Novembro):

Entretanto, o ainda Presidente Jorge Sampaio entretinha-se a facilitar-lhe [ao Presidente eleito, Cavaco Silva] "ao máximo" a vida, nessa altura de transição de poderes. Sugerindo, informando, colaborando, disponibilizando os serviços do Palácio, abrindo a casa à nova equipa, convidando o novo Presidente para jantar em Belém com a família ou organizando almoços entre os principais elementos das respectivas Casas Civis.
"É verdade, empenhei-me pessoalmente para que a passagem do testemunho ao professor Cavaco Silva ocorresse nas melhores condições possíveis", recorda hoje o ex-Presidente Sampaio, que acrescenta que o fez porque "é assim que entendo o funcionamento da democracia e o bem servir a causa pública, mas também por uma questão de civismo e, até, de civilidade". De tal forma isto se passou assim que, chegado a Lisboa, Nunes Liberato se encontra - nesse mesmo dia - com Sampaio, ainda antes de se avistar com Cavaco!  
A partir daí seguiram-se "vários encontros de trabalho" entre João Serra, o ainda chefe da Casa Civil de Sampaio, e Nunes Liberato, já na qualidade de seu sucessor. Um comportamento louvado por Cavaco Silva como "exemplar" e que o chefe da Casa Civil "jamais" esquecerá: "O professor João Serra foi tão notável que me autorizou a tomarmos conta das instalações na véspera da tomada de posse, para começarmos a trabalhar às 9h  em ponto de dia 9! Acompanhei o grupo todo indicando os gabinetes respectivos", recorda Nunes Liberato. 

Tive sempre presente nesta transição, que me coube facilitar, o que se tinha passado na anterior passagem de testemunho. Quando entrámos em Belém, a 9 de Março de 1996, andávamos pelos corredores à procura de gabinetes vazios para nos instalarmos. Com excepção das chefias, ninguém dispunha de equipamento mínimo de trabalho nas suas secretárias. Foram precisas semanas para normalizar a situação e interiorizar regras de trabalho e de funcionamento. A experiência acumulada pelos inquilinos da década anterior não nos foi transmitida.

6 comentários:

Anónimo disse...

A Demcracia faz-se de exemplos de boas práticas como estas, tal como se faz a Educação. Para quando, as Memórias de tudo isto?
- Isabel X -

João Ramos Franco disse...

Tudo o que Maria João Avillez escreveu na sua reportagem, só seria estranho para mim se não conhecesse as personagens (o cidadão Jorge Sampaio e o cidadão João Serra) que estão bem retratadas nas palavras do Ex. Presidente:"é assim que entendo o funcionamento da democracia e o bem servir a causa pública, mas também por uma questão de civismo e, até, de civilidade".
Tudo estaria bem na nossa democracia se todos se comportassem deste modo.
João Ramos Franco

Anónimo disse...

Meu Caro Professor:

O seu acrescento, valeu a guarda e o envio....

Aceite o repto da Isabel X.... vá publicando no "O que eu andei" que nós vamos validando, disfrutando, e saboreando....e nalguns casos, estou certo, nem acreditando.... ou julgando-o nalgum delírio ficcional...
Um Abraço
PS

Anónimo disse...

Aos que deixaram, mas abriram a "Casa":
"Há-de haver uma janela, ou rasgamo-la nós, uma janela qualquer,toda aberta, que se abra inesperadamente para o futuro".
Quem elogiou o indiscutívelmente elogiável, "primeiro estranha-se, depois..."
MMGV

J J disse...

Não me parece que Mário Soares, político de grande qualidade (mais que homem de grandes qualidades), tivesse a organização e o planeamento como prioridades. Animal político instintivo e inquieto, no momento de sair de Belém estaria seguramente mais interessado no que ia fazer (ou como ia regressar?)a seguir. É natural que o seu "staff" pensasse e agisse à sua imagem.
Isto é uma mera impressão pessoal, o autor é que conhece bem estes meandros, esperamos todos as "Memórias".

Anónimo disse...

Uma crítica a fazer:
O João não estar na foto...., refiro-me à foto apresentada, porque as "outras" ficaram bem plasmadas na nossa memória e são fonte do nosso orgulho de o termos como amigo,
JG