segunda-feira, 7 de março de 2011

"Na panela do pobre tudo é tempero"

Rezei, de verdade, para que pudesse esquecer-me, por completo, de que algum dia já tivessem existido septos, limitações, tabiques, preconceitos, a respeito de normas, modas, tendências, escolas literárias, doutrinas, conceitos, atualidades e tradições - no tempo e no espaço. Isso, porque: na panela do pobre tudo é tempero. E, conforme aquele sábio salmão grego de André Maurois: um rio sem margens é o ideal do peixe.
Aí, experimentei o meu estilo, como é que estaria. Me agradou. De certo que eu amava a lingua. Apenas, não a amo como a mãe severa, mas como a bela amante e companheira. O que eu gostaria de poder fazer (não o que fiz, João Condé!) seria aplicar, no caso, a minha interpretação de uns versos de Paul Eluard ..."o peixe avança nágua como um dedo numa luva" ... Um ideal: precisão, micromilimétrica.


João Guimarães Rosa, Carta a João Condé. Ficção Completa. 1º Vol. 2ª edição, Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, 2009. p. 9-10.

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