sexta-feira, 8 de julho de 2011

Maria José Nogueira Pinto

De Maria José Nogueira Pinto recordo a inteligência e a sensibilidade, a acuidade e o empenho, a delicadeza do trato e capacidade de entrega a projectos em que reconhecia interesse público. Como tive o privilegio de contactar de perto com ela e de me achar implicado na concretização - bem ou mal sucedida, pouco importa - de alguns desses projectos, posso testemunhar essa disponibilidade de fazer equipa que para mim sobreleva todos as restantes qualificações de cariz político. É por isso que não me deterei nem por um momento nessa exaltação das convicções de direita, que para mim aliás surgem mais como um efeito de narrativa do que um condicionante da acção.
No essencial, os nossos inúmeros encontros e conversas, em Lisboa e em A-dos-Negros, foram suscitados por temas caldenses - políticos, culturais. Depois de ter sido vencida por Paulo Portas no Congresso de Braga de 1998, Maria José declarou-se apenas disponível para integrar as listas do CDS nas Caldas da Rainha, e foi assim que veio a integrar a Assembleia Municipal das Caldas, na sequencia das eleições autárquicas de 2001. Um dos temas que suscitou a nossa mútua troca de informações e perspectivas, nessa altura, foi a situação do Centro Hospitalar das Caldas da Rainha e os projectos que então se enfrentavam sobre a sua evolução futura. Mas o tema mais recente do nosso envolvimento mútuo foi o da Faianças Artísticas Bordalo Pinheiro, com sobrevivência ameaçada desde o Verão de 2008. Sabendo do meu interesse pela questão, Maria José Nogueira Pinto pediu-me conselho e mediação junto de diversas entidades e personalidades intervenientes ou pelo menos influentes no processo de transição. Pouca gente saberá, mas Maria José Nogueira Pinto foi o rosto e o motor de um grupo que entrou na corrida pela aquisição da Bordalo Pinheiro, acreditando que se tratava de uma empresa viável e emblemática das Caldas e do Pais que merecia ser preservada. Foi outra a opção prevalecente, junto do Governo e dos investidores institucionais, mas é de toda a justiça referir agora o empenho e convicção postos por Maria José Nogueira Pinto numa solução empresarial que garantisse a continuidade de um valor simbólico de primeiro plano para a cultura portuguesa.

1 comentário:

Isabel X disse...

Outra morte, mais uma, que significa uma grande perda.
É impressionante constatar quanto são coincidentes a dignidade na morte e na vida. A morte faz parte da vida.
Faz-nos sentir coisa pouca (o que sempre nos faz falta) assistir ao exemplo de Maria José Nogueira Pinto.
- Isabel X -