terça-feira, 2 de agosto de 2011

"Para me pores à prova"

Respondendo-lhe [ a Atena] assim falou o astucioso Ulisses:


"Ao mortal que te encontre é difícil, ó deusa, reconhecer-te, 
Por muito sabedor que seja; pois a tudo te assemelhas.
Mas isto eu sei: que já antes de mim foste benévola,
quando em Tróia combatíamos, nós os filhos dos Aqueus.
Mas depois que saqueámos a íngreme cidadela de Príamo,
embarcámos nas naus e um deus dispersou os Aqueus:
nunca mais te vi, ó filha de Zeus nem na minha nau te senti
embarcar, para que afastasses mais longe o sofrimento.
Não: sempre com pensamento pesado no coração
vagueei, até que os deuses me libertassem da desgraça.
Mas antes na terra fértil dos Feaces me encorajaste
com palavras e foste tu própria a conduzir- me à cidade.
Agora pelo teu pai te suplico: não me parece na verdade
que tenha chegado a Ítaca soalheira; mas ando às voltas
noutra terra. E julgo que foi para me provocar
que disseste aquilo, para me pores à prova.
Diz-me se é verdade que cheguei à minha páttia amada". 

Homero, Odisseia, Canto XIII, 311-328. Tradução de Frederico Lourenço. Lisboa, Livros Cotovia, 2003. p. 222.

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