segunda-feira, 14 de novembro de 2011

À janela de Luiz Pacheco

As vezes, palavras duras, definitivas, a luta dos indivíduos (a morte ou a vida), e chacotas pelos fracassos de cada um, e arremessos de mau génio, e vampirismo, pois então. Somos puros. E que falta nos fazem lençóis, fronhas, almofadas? os cobertores, quando os há, estão enegrecidos e com manchas, cheiram ao chichi das criancinhas, quando não a coisas que eu não digo. Mas abrindo a janela, que contraste de perfumes com o ar lavado que vem dos montes da Serra de São Luís! com a florescência das árvores na Avenida! E deixem-me que lhes diga: se é precisa a maior vigilância com as maganas das lêndeas e as brincalhonas pulguitas (especialmente daquelas pequeninas, estilo terroristas, são mesmo uns amores!), a graça que tem a Irene na caça à bicharada, desporto conceituado nas brenhas beirãs onde a fui escolher, e como se alegra dizendo «era uma verdadeira toira!» ou «esta tinha o rabo branco, eram duas às cavalitas», o que só demonstra que na classe agrária, enquanto não chega o dia do tractor e da Reforma, a educação feminina quedou nessas prendas doméstico-venatórias do olho atento, dedos que nem setas, unhas como guilhotinas.

Luiz Pacheco, Comunidade, 1964.

1 comentário:

Maria disse...

Saudades dele. E do tempo em que viveu na nossa terra!