sábado, 12 de maio de 2012

Registo


Inauguração da Exposição Angelorum, no Museu Alberto Sampaio

Com esta exposição, todos os espaços programáveis de Guimarães ficam abrangidos pela Capital Europeia da Cultura, numa demonstração de vitalidade das instituições e de capacidade de desenhar e planear em rede.
Sem o saber e a experiências das instituições - públicas, semi-públicas, particulares – a Capital Europeia da Cultura não passaria de um programa indiferenciado e fugaz. Sem a participação de um grande  numero de instituições, os valores do programa seriam mais circunscritos e a sua projecção no território e nas pessoas mais limitada.

Queria sublinhar este ponto. Depois do Paço dos Duques, da Sociedade Martins Sarmento, do São Mamede, do Convívio e do CAR, do Vila Flor e da Asa, do CAAA e do espaço público, das escolas e do mercado, das lojas e das casas, com o Museu Alberto Sampaio são várias dezenas de espaços, mais de uma centena, que acolhem a Capital Europeia da Cultura e a mostram aos visitantes.

Quero agradecer à Direcção do Museu Alberto Sampaio, ao seu director e ao seu pessoal toda a dedicação e competência com que abraçaram este desafio de trazer a Guimarães 2012 uma boa exposição sobre temas da sua colecção que é fundamentalmente de arte sacra.

Este agradecimento estende-se aos organismos governamentais da Cultura onde sempre encontrei a porta aberta para apresentar e discutir os projectos da Capital Europeia da Cultura.

O tema escolhido foi o da representação do anjo na pintura e na escultura portuguesas ao longo dos quase mil anos de existência de Portugal. É um tema riquíssimo, que mobilizou colecções de todo o país, e que se estendeu até aos nossos dias, com ramificações noutras áreas de expressão, como as artes gráficas e a fotografia.

A exposição valoriza a colecção do próprio museu, num diálogo entre peças oriundas de outras colecções e peças próprias e entre peças da colecção permanente e peças conservadas nas reservas.

Que vemos nós, que viram os homens que nos precederam ao olhar a representações desses seres mediadores que são os anjos?
Esse seres que a imaginação humana dotou de asas escapam aos limites da realidade que nos cerca. Enigmáticos ou tutelares, intercessores ou orientadores, distantes ou porosos, prudentes ou ingénuos, graves ou travessos, o mundo inventado dos anjos foi o contraponto do mundo paralelo em que vivemos.

Não podemos viver sem eles, os anjos da nosso coração e do nosso desejo.

Eugénio de Andrade no seu Anjo de Pedra:

“Tinha os olhos abertos mas não via.
O corpo todo era saudade
De alguém que o modelara e não sabia
que o tocara de maio ou claridade.
Parava o seu gesto onde pára tudo:
no limiar das coisas por saber
- e ficara surdo e cego e mudo
para que tudo fosse grave no seu ser.”

 Ou no seu Até Amanhã

“Aqui estão as mãos.
São os mais belos sinais da terra.
Os anjos nascem aqui:
Frescos, matinais, quase de orvalho,
de coração alegre e povoado.”

São os anjos que humanizam o espaço, dão sentido ao segredo e vencem o silêncio.
Como a poesia e a arte em geral.

1 comentário:

Isabel X disse...

Os anjos prestam-se, é certo. Mesmo assim, não é vulgar terminar um discurso ou uma apresentação citando poemas tão belos.

Dizem que os anjos voam porque não se levam a sério... será?

- Isabel X -