quarta-feira, 26 de setembro de 2012

À janela de Eugénio de Andrade

A Rosa e o Mar

Eu gostaria ainda de falar,
da rosa brava e do mar.
A rosa é tão delicada,
o mar tão impetuoso,
que não sei como os juntar
e convidar para o chá
na casa breve do poema.
O melhor é não falar
Sorrir-lhes só da janela.

2 comentários:

Isabel Soares disse...

Quem nunca se aventurou mar adentro, nunca teve a ventura de soltar as amarras, levantar os pés de terra e saborear a ventura da corrente, da carícia, do ímpeto da corrente, vencendo-a e vencendo-se.
Terá já usufruído da baixa-mar de S. Martinho numa manhã, sem brisa, em que o mar é um espelho enamorado pelos raios solares, no misto de sombras que a paisagem projeta na baia? Terá já usufruído do rugido e da força de preia mar da Foz de Arelho, em que a onda nos eleva e nos arrasta para a praia, saboreando amedrontado a doce sensação de se deixar ir no turbilhão?

Há mar e mar … disse o poeta (não este) e eu subscrevo. Eugénio de Andrade, com todo o respeito e enlevo que me merece fala do mar sentado à mesa de trabalho. Na minha modesta opinião, do mar fala-se com os pés mergulhados na onda.

Felizmente, gosto mais de tulipas. Amarelas, de preferência, raiadas de sol e encantamento.

S. J. disse...

"Da mais alta janela da minha casa/ Com um lenço branco digo adeus/ Aos meus versos que partem para a Humanidade./(...)"
Alberto Caeiro, O Guardador de Rebanhos XLVIII

Seria bom que o escrevedor deste blog seguisse, na primeira oportunidade, a obra completa de Caeiro como se de um texto único, corrido, se tratasse. Leria então, por certo, como neste poema de Eugénio de Andrade, a narrativa de uma caminhada inexorável em direcção ao silêncio absoluto da própria mudez.